terça-feira, 28 de junho de 2011

As crianças da Guernica e seus Países Adotivos



Com a Guerra Civil, durante os anos de 1937 e 1938, mais de 35.000 crianças foram levadas para a União Soviética e México. Outros países europeus também acolheram os refugiados, entre eles, França (22.000) e Bélgica (mais de 3.000). Muitas deles nunca mais voltaram para a Espanha, mas seus depoimentos nos permitem reconstruir hoje a parte da história de uma geração que sofreu os horrores da guerra e o desarraigo.

México - O governo republicano, transferido para Valencia, organizou desocupações infantis para o México, país que ofereceu refúgio através do seu Presidente Lázaro Cárdenas. Quase 500 mil crianças foram enviadas para a cidade de Morelia em Michoacán, alojando-se em uma escola recém equipada num prédio da igreja. A sociedade moreliana era extremamente conservadora para acolher crianças de famílias republicanas, dando lugar a uma série de conflitos. A imprensa conservadora aproveitou o momento para fazer uma campanha contra a política cardenista em relação aos refugiados espanhóis. Na década de 60, as crianças de Morelia já haviam estabelecido profundas raízes sociais e familiares no México, por isso muitas delas não voltaram para a Espanha.

Amparo Batanero: Tinha apenas 5 anos quando pegou um trem para ir ao México junto com seus irmãos em 1937. As lembranças dos primeiros anos não são muitas, mas recebia cartas de sua mãe dizendo-lhe que se comportasse e que se reuniriam em breve. Mesmo com uma dívida pendente, visitou Espanha para “conhecer” os pais e a irmã menor que tinha ficado lá. Em 1974 recebeu a nacionalidade mexicana com orgulho e agradecimento.

União Soviética - A União Soviética apoiou o governo republicano desde o início da Guerra Civil e acolheu mais de 3.000 crianças, recebidas como heróis. Elas foram educadas no mais alto nível das diversas matérias para que ocupassem boas posições profissionais ao regressarem à Espanha. Mas ao final da Segunda Guerra Mundial, Espanha e União Soviética já não mantinham boas relações diplomáticas e as crianças não tiveram alternativa do que continuar a viver no local que as acolheram. A maioria que decidiu voltar ao país de origem durante a década de 50 não conseguiu se adaptar e seus diplomas acadêmicos não foram reconhecidos pelas autoridades espanholas.

Juanita Prieto: Em julho de 1937, aos 12 anos de idade, ela deixou seus pais, tios e avós para se refugiar na União Soviética. Ela estudou com professores espanhóis e com livros que eram traduzidos para que as crianças não perdessem o contato com a língua castelhana. Durante muitos anos viveu com a ilusão de voltar para Espanha, mesmo sem ter tido nenhuma notícia de familiares. Durante a década de 90, com a União Soviética devastada e sem nenhum patrimônio, transladou-se para sua terra natal onde, mesmo com as lembranças da infância, sente-se tratada como estrangeira.

Grã Bretanha - Inicialmente, negaram acolher as crianças refugiadas por temor que o ato fosse interpretado como um apoio aos republicanos, mas a forte reação da opinião pública britânica diante o bombardeio de Guernica, forçou o governo a mudar sua decisão. 4.000 crianças foram recebidas sem nenhuma contribuição econômica ou material. Voluntários de organizações civis ocuparam-se delas em um imenso acampamento ao ar livre no sul da Inglaterra. Após o final da Guerra Civil, uma grande parte destas crianças voltaram para a Espanha.

Begonia Ballesteros: Suas lembranças da guerra são a sirenes antes dos bombardeios e a destruição. Morava em Bilbao e foi levada para a Grã Bretanha junto com sua irmã em 1937. Em 1940, quando Franco pede que as crianças refugiadas sejam devolvidas, volta para seu país sem conseguir ver os pais, em meio de perseguições e fome.

Nenhum comentário:

Postar um comentário